Andei pesquisando um pouco na net para escrever algo sobre Mr. Charles Bukowski. Basicamente, encontrei sempre o mesmo texto, um breve resumo de uma vida bem movimentada. Curiosamente o texto que mais me agradou foi o texto do tradutor e, pelo visto, grande conhecedor da obra de Bukowski, Pedro Gonzaga. Quando li a apresentação que Pedro Gonzaga fez do livro Misto-Quente briguei com Pedro, achei que ele estava querendo sofisticar o nosso Buk.
..." Equívoco perdoado ao leitor comum, mas que muitas vezes é mantido pelos próprios críticos literários.
Em primeiro lugar, Charles Bukowski não é o personagem-narrador de seus textos. Seus personagens são criações literárias, invenções elaboradas e não simples colagens da vida do autor. O forte caráter autobiográfico que pode, com certeza, ser encontrado ao longo de toda obra é somente meio e nunca fim. Tanto o velho safado como Henry Chinaski, protagonista do livro que o leitor tem em mãos, são alter egos ficcionais.
Em segundo lugar, a simplicidade aparente do texto, a narração direta dos eventos (tão cara à ficção americana) é ardilosamente arquitetada por um autor que domina perfeitamente as técnicas do fazer literário. Ou seja, toda a fluência pregada pelos personagens de escritor criados por Bukowski, ainda que espelhos dele próprio – e não há reflexo mais enganoso –, é uma construção elaborada, dissimulada pelo louvor à bebida e à escrita não-convencional. Os palavrões, a escatologia, os porres homéricos são mentiras que nos convencem da verdade,
mentiras que nos fazem acreditar, mentiras que tornam nossas próprias misérias mais suportáveis, mentiras que são a base primeira da literatura, lembrando a vigorosa idéia de Vargas Llosa."...
( Pedro Gonzaga )
Achei que nem Bukowski, se estivesse vivo, gostaria desse tipo de defesa. Contudo, analisando as entrelinhas, acabamos entendendo porquê. Nada é tão raso na obra de Bukowski. Talvez a crueza e a falta de pudor sejam muito mais um reflexo da época que do próprio autor. A arte de contar mentiras maravilhosas por quem está cansado de vê-las.
..." Levantei-me e deixei a sala. Fui para casa. Então era isso que eles queriam: mentiras. Mentiras maravilhosas. Era disso que precisavam. As pessoas eram idiotas. Seria fácil para mim. Olhei em volta. Juan e seu comparsa não estavam me seguindo. As coisas estavam melhorando."...
..." Não sabia qual era nosso segredo, mas éramos diferentes, e podíamos sentir isso. Dava para ver pelo modo como caminhávamos e andávamos. Não falávamos muito, deixávamos tudo subentendido, e isso deixava as outras pessoas malucas, o modo como aceitávamos as coisas tacitamente,"... ( Trechos de Misto Quente - C. Bukowski.)
Quem quiser conhecer um pouco mais da vida do velho safado, pode dar uma olhada no blog o velho Buk http://ovelhobuk.blogspot.com.br/. Gostei bastante da análise literária, bem legal. ^^



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