A
dica de leitura da semana é o livro "Os engenheiros do Caos"
de Giuliano Da Empoli. Nascido em Paris em 1973. Giuliano Da Empoli é um escritor e
jornalista que formou-se na Universidade Sapienza de Roma e obteve um
mestrado em Ciência Política no Institut d'études politiques de
Paris. Ele fundou o think tank¹ Volta. Desde 1996, é colaborador
regular e colunista das principais mídias impressas do país,
incluindo Il Corriere della Sera, La Repubblica, Il Sole 24 Ore e Il
Riformista.
O
livro tem como objetivo lançar luz sobre o fenômeno político da
última década e discuti-lo, não esgotá-lo. Já na introdução, Da Empoli explica sobre o que quer falar. Pessoas como: Gianroberto
Casaleggio, especialista em marketing e utilização de algorítimos,
falecido em 2016; Steve Bannon, responsável pelo atual populismo
americano, estrategista-chefe da Casa Branca no governo Trump;
Arthur Finkelstein, judeu, homossexual, nascido em Nova York,
tornou-se conselheiro de Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria,
líder do Fidesz, um partido nacional-conservador de direita. Faleceu
em 2017; Milo Yiannopoulos, jornalista, empresário e palestrante
britânico. Defensor do estupro e da pedofilia, ele se autointitula
"o mais famoso supervilão da internet". Atualmente se diz
falido; Beppe
Grillo, comediante, blogueiro e político italiano. Fundador do
Movimento 5 Estrelas, transformou-se na terceira maior força
política italiana; Dominic Cummings, o estrategista político
britânico que atua como consultor-chefe do primeiro-ministro Boris
Johnson, diretor da campanha Brexit, conseguiu atingir os indecisos
pela coleta de dados. Estes são, segundo Da Empoli, os engenheiros
do caos político e informativo que vivemos.
Uma
das
ferramentas
usadas para construção desse caos não é uma novidade, trata-se do
escárnio. Da Empoli fala sobre a figura do bufão agressor cujas
piadas e insultos contribuem para a demolição da ordem
estabelecida.
Junte isso a insatisfação com a classe dominante, a coleta de
dados e os convenientes algoritmos, temos aí a receita do sucesso. Nada mais devastador
para uma autoridade que o impertinente que o transforma em objeto de
ridículo, diz Da Empoli. Aí mora o sucesso das fake news, não se
trata de crer na mentira, mas divulgá-la para causar o maior
desconforto possível àquela autoridade. Nenhuma piada é baixa
demais se contribuir para a demolição da ordem dominante, conclui
Da Empoli. Na sua análise, o jogo não é juntar as pessoas em torno
de um denominador comum, mas mantê-las em seus grupos unidas somente
pelo ódio às elites. Aqui um adendo da minha parte. Boa parte desse
ódio que também é direcionado de forma extremamente agressiva para
as minorias, pode ser explicado no livro "A
nova segregação: racismo e encarceramento em massa", de
Michelle Alexander (ed. Boitempo). A
advogada dos direitos civis fala, nesse livro, sobre o ressentimento
branco, ou seja, o ressentimento que a classe pobre branca estadunidense tem. Uma população que não
recebe nenhum tipo de suporte do Estado e vê todo apoio dado aos
negros como um
tipo de
proteção. Esse
ressentimento
do
qual Michelle Alexander fala, pode ser estendido a todas as minorias
que têm ou reivindicam algum tipo de amparo.
É
esse
ódio generalizado que
une os grupelhos e blinda os organizadores das
consequências de
suas
mentiras e falta de decoro. A maioria eleitoral por eles conquistada, não é
um reflexo da união por um bem comum, muito pelo contrário, é o reflexo do desejo de destruição. Sendo assim, esses
outsiders histriônicos querem os extremos, a polarização. A
falta de propostas concretas e
o desprezo pela formação acadêmica facilitam
o trabalho de manipulação de massa desses líderes
e dão
ao cidadão comum a sensação de pertencimento. Segundo Da Empoli,
cada um passa de espectador para ator, sem nenhuma distinção
baseada em grau de instrução, sua
falta de formação não é mais um
impeditivo
para sua manifestação.
Da
Empoli conclui dizendo que o objetivo do livro é trazer subsídios
para o debate dando
uma forma diferente de apreender a comunicação política. É
exatamente isso o que acontece, "Os Engenheiros do Caos" é um livro essencial.
¹Think Tanks são instituições ou organizações voltadas para a produção e difusão de conhecimento sobre temas políticos, econômicos ou científicos. Tem a função de pautar debates por meio da publicação de estudos, artigos e da participação de seus integrantes na mídia. Trabalham temas de interesse público, como centros de pensamento dedicados a projetar alternativas e prováveis efeitos de problemas que afligem a sociedade.
Referência:
BBC.
Quem é Milo Yiannopoulos, astro da extrema-direita dos EUA que criou polêmica por declaração sobre pedofilia. O Globo, 2017. Disponível em : <
https://g1.globo.com/mundo/noticia/quem-e-milo-yiannopoulos-astro-da-extrema-direita-dos-eua-que-criou-polemica-por-declaracao-sobre-pedofilia.ghtml >. Acesso em: 19, maio de 2020.
ALEXANDER, Michelle.
A nova segregação: racismo e encarceramento em massa. São Paulo: Boitempo, 2018
Youtube. Racismo e ressentimento dos brancos pobres | Silvio Almeida
<
https://www.youtube.com/watch?v=FiUwQawuHmM>. Acesso em: 19, maio de 2020.
SOCIALISMO criativo .
Think tank. Socialismo Criativo, 2019. Disponível em<
https://www.socialismocriativo.com.br/think-tank/>. Acesso em: 19, maio de 2020.
MESQUITA, Fernão Lara.
O livro que (quase) mata a charada. O Estado de São Paulo, 2020.
Disponível em: <
https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,o-livro-que-quase-mata-a-charada,70003307123>. Acesso em: 19, maio de 2020.
VOLTA
.“Gli ingegneri del caos. Teoria e tecnica dell’Internazionale populista”, di Giuliano da Empoli. Rassegna stampa
<
https://voltaitalia.org/2020/02/13/gli-ingegneri-del-caos-teoria-e-tecnica-dellinternazionale-populista-di-giuliano-da-empoli-rassegna-stampa/>